terça-feira, 3 de março de 2009

DA CRUELDADE HUMANA


No livro AS VIDAS DOS ANIMAIS, o Nobel da Literatura J.M. Coetzee defende que a crueldade humana não tem limites, sobretudo quando o que está em causa é o massacre, em grande escala, de animais para consumo. Fala mesmo de um holocausto que toma lugar nas grandes quintas, nos matadouros...

Noutra perspectiva podemos ver a dimensão dessa crueldade na forma como os animais são tratados, mesmo antes de mortos. Todos os dias convivemos com essa crueldade e fazemos de conta que não é nada connosco.

Por vezes somos nós próprios a ser cruéis: sem querer, sem saber, sem hesitar. Basta andar na estrada: os ouriços-cacheiros, os gatos, os cães... imóveis... enquanto nós passamos e aceleramos, olhando para o lado, passando por cima.

Hoje seguia um tractor que carregava um bezerro morto: o meu dia começou assim – com a estupefacção da crueldade humana que nem na morte permite alguma dignidade aos animais. O bezerro cambaleava suspenso, num espectáculo de horror, enquanto o tractor seguia em marcha lenta, hipocritamente lúgubre, para o enterro final: no lixo!

Eu sou vegetariano sempre que posso. Nem sempre é fácil sê-lo, sobretudo quando parece que todo este mundo está feito para que sejamos omnívoros à força. Depois do que vi hoje só dá vontade de ser ainda mais vegetariano: de me poupar à participação nesta crueldade massiva.

Imagino o que sentiria uma criança se tivesse assistido ao mesmo espectáculo? Sentir-se-ia mal por ver um animal sofrer mesmo depois de morto? Há-de compreender, na sua pureza inocente, a dimensão dessa crueldade? Ou estará já indiferente, desviando o olhar, desinteressando-se, rindo macabramente da posição estúpida do animal?

Ser VERDE é também procurar alguma justiça transversal para todos os seres vivos. E tudo começa, por vezes, com a denúncia da estupidez, humana, quase sempre.


Daniel Gonçalves, OS VERDES, Santa Maria.